Poemas da missão de governar

29/06/2020

Perda e sofrimento

Acostume-se a não ter.
A perda é dor que sofremos
Por chegarmos a perder
Um amor com o qual vivemos;

É uma pena que sentimos
Porque temos de viver
Sem voltarmos mais a ter
Um bem que adquirimos:
Saúde, paz, afeição
Ou a presença de um irmão -
Parte do que existimos.

25/06/2020

"Filhos do Quarto Mandamento"

Uma vida pelos pais:
Primeiro filho
"Ele viveu mais, cuidando
do pai e da mãe; e dele, não."
Assim, na terra, foi dando
bom exemplo de filho e irmão.
Depois da luta seguida,
deixou honrada e cumprida
essa sagrada missão.

Segundo filho
Um filho que se dedica
Aos seus pais, de corpo e alma,
Merece mais do que palma,
Vida digna e vila rica.
Somente Deus glorifica
Esse espírito elevado
Que se entrega, dedicado,
Aos seus pais no sofrimento.
Para honrar seu nascimento
Do ventre onde foi gerado,
Do peito paterno amado,
Cumpre o Quarto Mandamento
Dos Dez que Deus tem olhado.

Valdir Loureiro

19/06/2020

Competência da bisbilhotagem

A bisbilhotagem é supercompetente
Quando se vai intrometer na vida alheia.
Não lhe importa se a sua atitude é feia
Ou se está agindo de modo indecente.

O que lhe interessa é colher fielmente
As informações confidenciais,
A idade, a doença e os dados pessoais 
Daquele que é o alvo da curiosidade.

E ser curioso é outra capacidade
Que o bisbilhoteiro possui em abundância.
Pergunta, especula e atribui relevância 
Ao fato que seja do seu apetite.

Adentra uma casa sem ter um convite
Até se inteirar do que aconteceu.
Qual é a "causa mortis" (de quem faleceu),
Pois já não lhe basta saber o diagnóstico.

Não lhe importa se alguém o acha pernóstico,
Filão, atrevido, abelhudo e intruso.
Depois de saber um segredo, faz uso
Em proveito da sua astúcia e fuxico.

Onde não lhe cabe, ele coloca o bico
Até sentir gosto no fundo do balde
Onde houver segredo e então ele malde
Do que o pobre tem e do que falta ao rico.

17/06/2020

Formado em Medicina para curar

"A corda rebenta do lado mais fraco."
Eu já quis ser formado em Medicina...
E se fosse, não mataria alguém,
Não deixando o doente morrer sem
Prescrever um remédio ou vitamina.

Não faria da Arte uma assassina,
Minha mão não seria criminosa.

A consulta não era preguiçosa.
Meu impulso carnal, eu controlava:
Um assédio, eu nunca praticava,
Tendo sempre a relação respeitosa
Exposta à vista ou na intimidade.

No hospital e na maternidade,
Como médico de posto e de família,
Se eu tivesse de ficar em vigília, 
Não dormia em plantão nem em emergência.

Não perdia a linha da paciência,
Não brigava com um acompanhante;
Nem tomava atitude provocante,
Nem seria um espírito insensível.

Minha caligrafia era legível
Para não confundir um famacêutico.
Não deixava o processo terapêutico
Sem controle ou apenas com enfermeiro.

Não queria saber só do dinheiro,
Não pensava somente em recompensa;

Combatia o avanço da doença,
Não seria um médico descuidado.
Não deixava o paciente acamado
Sem saber o que iria acontecer.

Hospital ia ter de obedecer
A um conselho fiscal de medicina.
Não deixava uma ave de rapina
Encostar-se ou se agarrar em mim.

Meu perfil curador seria assim
Como o de "um hipócrates" que me ensina,
Diferente de um hipócrita com outro fim.

13/06/2020

Sofrimento, pena e pranto

Eu te vejo na agonia 
Do teu sofrer longo e lento.
Suportas e eu enfrento
Chaga, dor e hora fria.

Perdes a voz e a energia,
Mas eu não perco a esperança.

Tua face é frágil e mansa
Como a minha lágrima interna
Com a calma que me consterna.

Teu corpo morno e coberto
Precisa de mais conforto.
Recebe meu afago certo,
Ajeitando um lado torto:
Fico a postos, pronto e perto
Do teu espírito absorto.

Sofres em silêncio. E eu
Sigo esse exemplo teu.

Na dor que nos avizinha,
Abala, fere e definha,
Tua pena é maior que a minha;
Teu pranto é menos que o meu.