Poemas da missão de governar

10/06/2018

Dia dos Namorados 2018

Flecha de Cupido: amor e paixão

“Cupido encarnava a paixão e o amor em todas as suas manifestações.”
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Cupido.
          Acesso em 10-06-2018)

      1) Sob as ordens do Amor
Doze de Junho chegou.
É o Dia dos Namorados,
eternos apaixonados
que o Mundo já consagrou.
Foi Cupido quem flechou
cada casal diferente.
O Amor tomou a frente
e disse: “Agora é comigo;
eu vou 'botar de castigo'
quem não for obediente”.

2) A contraordem da Paixão
A Paixão, por sua vez,
dá sinal de irreverência,
quase desobediência,
já quando sai do endez.
Disse: “Não é com Vocês
que o casal vai se entender;
se for por mim, vai fazer
quase tudo que quiser:
seja homem ou mulher,
não precisa obedecer”.

3)  O Amor responde.
“Dizem que 'O Amor é cego’.
Mas a cega é a Paixão,
que não emprega a razão;
faz... e depois diz: ‘Eu nego...’;
é por isso que 'eu lhe pego'¹
na fama de traiçoeira."
"Seja musa verdadeira:
inspire um amor² sincero;
se for feito como que eu quero,
vai durar a vida inteira.”

¹o certo é “eu a pego” (com verbo transitivo direto), mas o "personagem" falou a seu modo.
²imagine-se um amor pessoal derivado do Amor como força maior e, por isso, este com letra inicial maiúscula e aquele, minúscula.

4)  Interferência e resultante
Os dois entes interferem
na vida de um casal
e o resultado final
sai do jeito que “eles” querem.
“Colam, descolam e aderem
o rosto e os Corações”,
que têm várias reações:
um feliz, outro ferido...
E a flecha de Cupido
voa em muitas direções.

5)  Duradouro e festejado
Desse voo, há quem sustente
“flerte", noivado e namoro;
casamento sem decoro —
em caráter permanente.
Uma união decente,
é mais fácil perdurar.
Um poema “está no ar”,
dando brinde e cobertura,
para o casal que segura
as flechadas que levar.

6)  Festivo recomeço 
ou Eternamente feliz
Namorada, Namorado,
saudai-vos com alegria,
na passagem deste Dia
de muito show animado.
“Um minuto festejado
seja um século de existência!"
E que a hora da ausência
traga de volta a chegada,
até ser eternizada
essa feliz convivência.

Notas: 
1) Não se recomenda uso de sublinhas no texto, mas, nesse poema, foram usadas a fim facilitar a visão do encadeamento entre termos e expressões em sintonia ou em contraponto, de uma estrofe para outra.
2) Usados apóstrofos em várias estrofes para conotar que as frases foram ditas pelo personagem inventado, as quais já estejam entre aspas em algum lugar do mundo.

08/06/2018

Conformação para quem está de luto

Clicar Aqui, ver neste blog

Conformação de luto ou Consolação ao enlutado

Poema "de fôlego" (tem mais de 600 versos, cada uma estrofe com seu título), sobretudo o mote 
E a Vida nunca termina.

        Sonho com a Morte 
Vi o fantasma da Morte, 
levando, em sonho, um irmão. 

Sofri com essa visão, 
chorei com a falta de sorte. 
Não achei como suporte 
essa aterradora dor. 
Lembrando aquele pavor, 
sinto ainda uma aflição. 

Foi aquilo a antevisão 
de um futuro terror. 

  Acometimento funesto
Revoltadíssimo, eu fiquei
Com a morte do meu irmão,
Sem chance de reação
Aos revezes que enfrentei.
Ainda agora, eu chorei
Pelo seu sepultamento.
Mas foi o acometimento, 
Modo como adoeceu,
Que também me entristeceu:
Vi um irmão falecer
Sem nada poder fazer
Um santo, um médico nem eu.
     (Estrofe autobiográfica)

        Dor infinita
Existe uma dor terrível 
Que só sente quem a tem. 
É da hora inesquecível 
De quando se perde um bem: 
O Bem Querer Maternal 
Que se interna em um hospital  
Sem nunca mais ver ninguém, 
Sendo o destino final
A Outra Vida no Além!

    Amargura da doença  
Fica amarga e triste a vida
quando a gente está salvando
pessoa amada ou querida,
diariamente, agonizando:
um espírito forte e penando
com uma doença infeliz;
se a Medicina não diz
nem o hospital reporta
remédio certo que corta
o seu mal pela raiz.

       Momento final
Um médico encerra uma luta
durante um choro de luto
que, de minuto em minuto,
de alguém do morto, ele escuta.
Segue o rito e a conduta
desse momento final:
do óbito triste e fatal,
ele expede o atestado;
na maca, entrega o finado
ao responsável legal.

  Decomposição e transfusão 
Com sete palmos de areia,
Um caixão fica coberto
No cemitério deserto,
A mais terrível cadeia
Onde se desencadeia
A destruição da matéria.
Fora da tumba funérea,
O espírito fica vagando
Com a sua família, chorando
Em uma transfusão etérea.

      Fácil e difícil
É muito fácil dizer
que um espírito seja forte,
que se conforme com a morte,
porque tem de acontecer.
Muito difícil é viver
sem a pessoa querida:
parece que a própria vida
de uma pessoa enlutada
fica também consumada
junto à outra, falecida.

Sentinela e funeral (hendecassílabos)
O choro da Morte é inevitável — 
com todo amargor, no velório e no enterro:
"certeza da ausência e sinal do desterro", 
duas flechas de dor do tipo insuportável.
No entanto, a pessoa torna-se mais frágil
é no "desespero do sepultamento":
a lágrima chorosa vira um sofrimento
que a faz perder o sentido e a razão,
caindo por cima do féretro no chão,
crivada de dor com terrível tormento.

O Capítulo I- Oração e "outra vida"

      1) Ao coração de luto
Não sei como vai ser dado
consolação e conforto
para quem se junta ao morto,
de coração enlutado.
Mas, ao rosto lagrimado
por essa falta de alguém,
dizemos que "lhe convém
se conformar e aceitar;
enquanto a gente rezar,
os Anjos dizem 'Amém'"!. 
      2) Prece e choro
Toda oração contém
um reflexo transcendente,
seja a favor de um doente
ou de quem foi para o Além;
é um remédio também
contra a dor em exagero.
E a lágrima vem do esmero,
"hidratando" a parte fraca,
em vez de uma dor que ataca
rosto e alma em desespero.

      3) Fluidos espirituais
No entanto, essa oração
dirigida para o Céu
não precisa ser com um véu
nem grinalda de algodão;
deve ter a dimensão
de transcendentalidade;
e uma espiritualidade
que todo mortal possui.
E assim o espírito flui
para a paz na Eternidade.

      4) Passagem marcada

Mesmo que seja esperada,
a morte é sempre surpresa,
a mais profética tristeza
temida em qualquer morada;
é uma passagem marcada
por uma triste partida;
toda morte é dolorida —
não há como se negar.
Por isso, é melhor pensar
na existência de Outra Vida.

Capítulo II- Anjos e imortalidade

      5) Recomeço doloroso
A morte não é o fim*,
mas é fase dividida:
é a continuação da Vida
em “outra casa ou jardim”.
Anjo, arcanjo e querubim
dão consolo e companhia
nessa “nova moradia”;
mas está no funeral
uma dor universal
que, aos mortais, causa agonia.
www.pensador.com/frase/MTMwOTY4OA/.

      6) Ascensão angelical
Os anjos têm hierarquia,
trono, poder e coroa.
Depois de morta, a pessoa
mantém a sua energia;
deve entrar em sintonia
com os corpos celestiais.
Correntes angelicais,
fora deste mundo torto,
vão tomar conta do morto
nos “degraus espirituais”.

      7) Cortejo imortal

Evidentemente é
mais fácil dizer “Suporte...”
do que andar com a morte,
de frente, firme e de pé.
Mas é preciso ter fé
na Luz que, ao corpo, ilumina:
vem de uma fonte divina,
em um cortejo imortal,
sob a Ordem Natural
que o dirige ou determina.

Capítulo III- Mote em uma linha:
E a Vida nunca termina...
"nunca", advérbio que deságua na eternidade; 
"terminar", verbo intransitivo.
A) Morte e vida

      8) Hora da morte
"A morte [ou falecimento]
não é o contrário da vida:
[sua antonímia assistida]
é a hora do nascimento."*
O espírito faz movimento,
sob a luz que o ilumina.
Morre o corpo ou se declina,
mas a alma é infinita:
deixa a matéria onde habita.
A Morte vem de surpresa,
por mais que seja esperada;
arma sempre uma cilada,
impedindo uma destreza.
Mas a Vida faz limpeza,
mesmo que não se previna:
com a sua “água cristalina,
‘lava a alma’ e arrefece
as chamas de quem padece”.
E a Vida nunca termina Oi.

      10) "Duas mães"
A Morte é um monstro invencível,
de presença detestável,
com ação abominável —
“a mãe de uma dor terrível”.
Mas a Vida é concebível
como “a mãe que predomina”;
tem a “bênção da vacina”
que imuniza corpo e alma,
traz de volta luz e calma.
E a Vida nunca termina.

B) Nascimento, morte e luto

      11) Choro universal
Choramos quando nascemos;
quando morremos, choramos.
Quando neste Mundo, entramos,
é sempre assim que vivemos.
Com o Tempo, nós aprendemos
o que a Dor Terrível ensina:
"Morte não é assassina,
é um grande mal necessário,
consolado em santuário".
E a Vida nunca termina.

      12) Choro controlado
O enlutado quer ouvir
um ensaio de oração —
mesmo sem explicação
sobre o que ele vai sentir;
Ele tem de resistir
ao choro que o amofina;
sua lágrima é cristalina,
mas deixa a vista embaçada;
precisa ser controlada.
E a Vida nunca termina.

      13) Ditado confortador
O enlutado quer saber
se acha palavra ou poesia
que o liberte da agonia
das algemas do sofrer.
Então pode assim dizer —
ao cumprir a sua sina,
vendo a Morte repentina
levar quem muito ele ama:
“'Morre o homem, fica a fama'.
E a Vida nunca termina...”.

      14) Mensagem sacrossanta

As mensagens da Igreja*
têm nuanças de poesia:
métrica, ritmo e harmonia 
sua melodia enseja.
Talvez o hábito assim seja
porque a Poesia atina
para cantiga divina
com toques de "transcendência
que substitui a ausência".
E a Vida nunca termina.

*Frases litúrgicas e poéticas que podem virar versos decassílabos (com 10 sílabas métricas), ritmados com sílabas poéticas tônicas em negrito:

"O Esrito nos una num só corpo.
Esperamos entrar na vida eterna.
Dai a todos a luz que não se apaga".

C) Cena e ações

      15) Cenário de luz¹

Na sala, faz-se o velório,
a as velas queimam pavios.
“Os olhos viram dois rios
de lágrimas” no oratório,
molhando o "caixão corpóreo"².
"A vela acesa ilumina
a alma" que se imagina
fugir da escuridão
em busca de salvação.
E a Vida nunca termina.

¹ Clicar aqui, ver também

https://www.google.com.br/search?q=cen%C3%A1rio+de+luz&source
² Alusão ao "féretro" (caixão onde se guarda a pessoa morta).

      16) Missa de Sétimo Dia
Nem a Mãe Filosofia*
tira o coração do aperto.
A família faz o acerto
da Missa de Sétimo Dia.
"Brilham cristais de poesia
só vistos pela retina."
Filha com neta imagina
uma poética mensagem,
fazendo outra homenagem.
E a Vida nunca termina.
      *A Mãe das Ciências.

D) Exemplos e enfrentamento

      17) Três poetas
Foi-se Álvares de Azevedo¹,
Castro Alves² e Vinícius...³.
Seus poemas vitalícios
não os levaram a degredo.
“Álvares foi muito cedo”,
sua Dúvida era uma sina;
Castro sempre se afina
com A Lei da Escravidão;
viva O Poeta da Paixão!
E a Vida nunca termina.

¹O Poeta da Dúvida.
²O Poeta dos Escravos.
³... de Moraes, O Poeta da Paixão.

      18) Salomão também se inclui.

Depois do sepultamento,
dorme o corpo no caixão;
mesmo debaixo do chão,
voa em muito pensamento.
Não se acaba o sentimento
da esposa e da concubina.
Salomão morreu com a sina
de ser justo, mas volúvel.
Sua história é indissolúvel...
E a Vida nunca termina.

      19) Heroínas e passageiros
Solidão não apavora...
É a Morte que faz medo:
“não escolhe alguém a dedo”,
mas assusta em qualquer hora;
levou Helena e Senhora,
Lucíola e Coralina.
Sua ousadia culmina
com "navio [que vai] a pique":
foi assim com o Titanic.
E a Vida nunca termina.
    *Protagonistas da Literatura.

      20) Popularidade irônica
Democrática e popular,
a Morte sempre vai ser:
não mira quem vai morrer;
é o primeiro que pegar.
Tem folga, tempo e lugar
na construção, na campina;
do Brasil à Palestina...
“Nos quatro cantos do Mundo”,
agoniza um moribundo.
E a Vida nunca termina.

      21) Enfrentamento
Para enfrentar a Morte,
é necessário entender
que "todos têm de morrer
como a planta entra no corte".
É preciso um espírito forte
junto ao corpo que declina:
contra a Universal Chacina,
tome a frente do combate,
levantando quem se abate.
E a Vida nunca termina.

E) Drama da família


      22) Linhagem e continuidade
Morre o pai, a mãe e o filho;
vive o neto em seu lugar,
querendo perpetuar
uma família de brilho;
o bisneto segue o trilho
que a “linhagem vaticina”:
em direito ou medicina,
música ou literatura —
Arte, Ciência e Cultura.
E a Vida nunca termina.

      23) Pai, mãe e filho

Quando é um irmão que vai
para a Eterna Dimensão,
fica chorando outro irmão
logo depois que ele sai.
Se já tiver ido o pai
e a mãe pra Casa Divina,
um anjo da família ensina
a suportar as três dores
com os sagrados valores.
E a Vida nunca termina.

      24) De manhã, cedo
Quando é de manhãzinha,
um filho fala na sala,
o outro já perde a fala
e os demais vêm da cozinha.
Vão cantar a "ladainha",
uma reza da matina 
que agora é prece divina
e ao mortal, imortaliza
onde a Morte faz divisa.
E a Vida nunca termina.

*autobiográfico: meu caso e supostamente de outra pessoa.


      25) "Ele está no meio de nós" 
             ou "Ele está entre nós".
Quem morreu vive entre nós 
invisível, impalpável;
sensível como abalável
quando escuta som e voz;
chega perto e logo após,
entra na nossa rotina;
por trás da santa cortina,
vê tudo quanto se passa;
chora, canta e acha graça.
E a Vida nunca termina.

F) "Campo-santo"


      26) "Dois de Novembro"
Chega o Dia dos Finados,
de visita ao cemitério:
o silêncio é um mistério
pela voz dos enterrados.
São muitos antepassados
que o sal da terra domina.
"O cemitério é salina
que não conserva a matéria
porque se faz carne etérea."
E a Vida nunca termina.

      27) Através da vidraça*
Quem contempla diariamente
a imagem de um cemitério
sente um ar telúrico e etéreo
que sopra invisivelmente.
Percebe tal como sente
um anjo que abre "a cortina
da atmosfera divina".
Olha por trás da vidraça,
fica em "estado de graça".
E a Vida nunca termina.
G) Depois da forma do corpo

      28) "Nuvem passageira" ou
            Impermanência da forma
“Quem se despediu da Vida”
não foi permanentemente:
ficou na alma da gente
que lhe foi grata e querida.
Nem fez a única partida
que o Universo determina.
“Nuvem se parte ou se inclina,
mas refaz-se ou se levanta,
mostrando que se suplanta.”
E a Vida nunca termina.

      29) Encarnação, ressurreição
O espírito desencarna,
mas a carne ressuscita.
Nessa alternância infinita,
a Vida segue ou desarna;
“Ressuscita ou reencarna” —
tudo é verbo que germina,
forma verbal que se afina
e, por essa afinidade,
suscita continuidade.
E a Vida nunca termina.

      30) Duas alusões

“E a vida continua...” 
diz, na cantiga, o Poeta¹.
Em parte, ele interpreta
o que este mote insinua:
é uma tese em que se inclua
Morte e Vida Severina²...
não é linha que defina
o consolo de um aflito,
mas "pode ouvir o seu grito".
E a Vida nunca termina...

¹música de Paulinho da Viola.

²obra de João Cabral de Melo Neto.

H) Estrofes autobiográficas

      31) Trinta e um anos
Hoje¹, faz trinta e um anos
que o meu bom pai faleceu,
porém não emudeceu
A Voz dos Verbos Ufanos².
Recordo ao vivo os seus planos
de criação e doutrina —,
que, "até hoje, ele me ensina
no meu 'campo-santo' oculto".
Guardo o seu vulto insepulto...
E a Vida nunca termina.

¹Hoje, 14 de maio de 2018 (falecido em 1988).
²antonomásia, ou melhor, cognome dado por mim que externa altivez e entusiasmo do meu pai.

      32) Mais de trinta e um anos
Depois de trinta e um anos
que uma pessoa* morreu,
sua prole não perdeu
reflexos cotidianos.
Guada roupas, redes, panos
que ficaram sobre a tina.
Vai à missa matutina
com uma veste ali deixada;
chora em uma rede armada.
E a Vida nunca termina.

*Meu pai e, supostamente, outra pessoa.


      33) "Mãe desnaturada"
Na hora, eu me revoltei
contra a Morte e "a sua foice"¹,
que, por causa dela, foi-se
"o meu pai-herói e meu rei".
Só depois me conformei,
que a Morte não se incrimina,
mas diz quando se assina:
“Sou a Mãe que não tem paz,
Desgraçada no que faz"².
E a Vida nunca termina.

¹Clicar aqui, ver também > imagem+foice+da+morte [...] chrome [...].
²antonomásia ou cognome atribuído por mim que indica um perfil da Morte.

      34) Morada eterna
Vou morar na Eternidade
— depois de viver na terra ,
pois a Vida não se encerra
na materialidade.
Creio na imortalidade
do espírito que me ilumina
e na "alvorada divina"
com tudo que é luz acesa
pela "mão da Natureza".
E a Vida nunca termina...

      35) Filho abalado
"O filho mais velho" chora
depois que tudo se passa,
pensando como rechaça
esse abalo que o devora.
Então resolve ir-se embora
para mudar de rotina:
muda de casa e colina,
porém não muda o sentido
na falta do pai querido.
E a Vida nunca termina.

*meu caso e supostamente de outra pessoa.

       36) Exemplo da cravina
"Gotas de lágrima", eu chorei
nas letras deste poema:
eram dor, luto e dilema
das Almas em quem pensei.
Mas não me desanimei...
Vou fazer como a "cravina":
resistente e purpurina,
que se adapta a qualquer vaso,
com a chuva, o Sol e o Ocaso.
E a Vida nunca termina.

Eu não existo sozinho
no Universo Infinito:
penso em riso, choro e grito
de um espírito, meu vizinho.
A sepultura é um ninho
onde cai chuva e neblina;
mas é casa sem esquina
e uma eterna moradia
"de quem me faz companhia".
E a Vida nunca termina.

I) Cogitação geral

      38) Fogo e fumaça
Quem foi que não assistiu
ao filme trágico da morte?
Quem não sofreu com seu* corte
nem o seu fogo, sentiu?
A vida é como um pavio
ao fogo da lamparina:
sua fumaça contamina;
sobe aos ares, faz um manto,
procurando luz e canto.
E a Vida nunca termina.

*seu, da morte (e não do filme).


      39) Recurso e desapego
Quem tem ou não tem riqueza
fica na posição certa:
“'pé na cova, cova aberta'
para um corpo sem defesa”.
O povo, o clero e a nobreza —
cada qual tem esta sina:
um caixão onde se inclina
com as mãos vazias —, dizendo:
“Não levo nada, morrendo”.
E a Vida nunca termina.

      40) Bálsamo, guarda-pó

Vai mergulhar todo mundo
na profundeza da morte.
O óbito é um passaporte
para um bálsamo profundo,
concentrando bem, no fundo,
uma essência que previna:
“guarda o pó¹ (ou a goma fina)
que pode ser transformado
para uso² continuado".
E a Vida nunca termina.

¹: carne, corpo, matéria;
²uso: para dar vida nova, renascer, reencarnar, ressuscitar.

      41) Berço e caixão
No dia do aniversário,
lembra-se o falecimento;
entra no congraçamento
"outra vida, outro diário".
Berço e caixão funerário:
cada qual se imagina...
são contrastes na retina,
mas é tudo unificado —
entre nascido e finado.
E a Vida nunca termina.

      42) Energia planetária
Foi dito que "tudo passa...".
Eu digo que "tudo fica";
somente se modifica
a matéria, o peso e a massa;
fica na Terra a carcaça
e o fio da carnificina.
Fica energia em turbina
feita por átomo gregário
no Sistema Planetário.
E a Vida nunca termina.

J) Trecho sugestivo

      43) Encanto da Vida
Seja existencialista,
sinta encanto pela Vida.
"Faça a sua despedida",
mas "não se perca de vista".
Volte com uma dose mista
de viagem paulatina:
deite a mão sobre a angina 
do coração ofegante
para seguir mais adiante. 
E a Vida nunca termina.

      44) "Vinho da imortalidade"
Não beba nem experimente
vinho de imortalidade.
Saiba que a eternidade
está na alma da gente.
Imitando a Voz Prudente,
vou resumir a doutrina:
"Não tome essa vitamina... 
Você não suporta ver
geração nascer... morrer...
E a Vida nunca termina"!.

Nota: forma verbal no imperativo atendeu à métrica do verso e não se trata de arrogância do autor.

      45) Desafio e superação
Desgosto de todos nós
e um desafio que temos:
neste mundo onde vivemos,
“a Morte é um bicho feroz”;
não envia porta-voz,
agride com a mão ferina.
Mas "a Vida é uma heroína"
que amansa e domina a fera;
vence, enquanto se supera.
E a Vida nunca termina.

K) Final em apêndice

    46) Um ano mais tarde
Depois de um ano passado,
continua a homenagem:
vela, choro, luto, imagem
do corpo que foi velado.
Seu vulto é reanimado
na mente que o imagina.
A luz do Amor ilumina
o esquecimento obscuro.
O passado foi futuro...
E a vida nunca termina.

O corpo é uma casa
de energia espiritual.    

     47) Energia espiritual
O corpo também se explica
pela casa energizada:
só a energia ligada
é a alma que o vivifica;
luz acesa exemplifica
o espírito quando ilumina;
e a casa que se extermina
vira tapera no chão,
mas deixa a iluminação.
E a Vida nunca termina.

48) e 49) Maio de 2019

      48) Dia 14 de Maio
Catorze de maio é o dia
em que o meu pai faleceu,
quando a família sofreu
tristeza, dor e agonia;
cada um de nós agia,
vendo a imagem peregrina.
Nem reza, nem dolantina
curaram a sua doença.
Mas sinto a sua presença...
E a Vida nunca termina.

49) Doze e Catorze de maio: riso e dor
O Dia das Mães passou-se
e um dia triste chegou.
Esse contraste mostrou
um impacto que a Morte trouxe:
uma existência mudou-se,
entristecendo a "bonina"*;
amargurou-se a rotina;
filhos choram, mãe resiste.
Dia alegre, dia triste...
E a Vida nunca termina.
      *Planta de flores, também chamada de Bela-margarida e Mãe-de-família.

      50) Mais morte, mais fé
Morreu a última pessoa
que cuidou de mim bastante
quando eu era um estudante
na busca de vida boa.
Tornou-se esposa ou patroa
de um chofer, gente fina.
Foram morar em uma esquina
onde também faleceram.
Mas, para mim, não morreram...
E a Vida nunca termina.

      51) Tio na UTI
      (Unidade de Tratamento Intensivo)
Se um tio meu está doente,
em estado terminal,
internado no hospital,
tratado intensivamente;
se tem um sobrinho ausente
que reside em Teresina
e, em ligação citadina,
não o achei para avisar,
resta só me conformar.
E a Vida nunca termina.

    52) Pensão por morte
Uma aposentadoria
é transformada em pensão,
mantendo a cifra e o cifrão
que a finada recebia.
E quem se beneficia
do valor que se destina,
constrangido ou não, assina...
Cancela-se o CPF*
em proveito de outro chefe.
E a Vida nunca termina.
   *Cadastramento de Pessoa Física.

      53) Voz do Martírio

"Tu, que és a Morte triste,
miserável, atrevida,
tiras de um corpo a vida
cuja alma sempre existe
e ao teu ataque resiste
qual o mártir à guilhotina.
Vais me levar, assassina...!
Mas fica tu consciente
de que eu vivo eternamente.
E a Vida nunca termina."

      54) Consolo de luto sem proselitismo
            Estrofe bárbara (com 12 versos)
A vida tem sofrimento...
Mas quem deseja morrer?
Antes a "cruz de viver"
do que bom sepultamento...
bom ou mau, chega o momento:
o final da provação.
Quem não tem religião,
mas tem religiosidade;
quem tem espiritualidade 
— católico, ateu e crente... — 
merecem ter igualmente
consolo de mortandade.

ÍNDICE TEMÁTICO DE RECAPITULAÇÃO
Capítulo I- Oração e "outra vida"
Capítulo II- Anjos e imortalidade
Capítulo III- Mote em uma linha:
E a Vida nunca termina...
A) Morte e vida
B) Nascimento, morte e luto
C) Cena e ações
D) Exemplos e enfrentamento
E) Drama da família
F) "Campo-santo"
G) Depois da forma do corpo
H) Estrofes autobiográficas
I) Cogitação geral
J) Trecho sugestivo
K) Final em apêndice
PÓS-APRESENTAÇÃO DO POEMA

O poema acima contém 54 estrofes de 10 versos, com redondilhas maiores (7 sílabas poéticas) e rimas intercaladas (abbaaccddc); cada estrofe numerada possui título e subtema próprios; todas juntas formam 3 capítulos; e o capítulo III, 11 seções.

O mesmo procura dizer à pessoa que perde um ente querido, alguma palavra-mensagem de aceitação da tragédia anunciada infinitamente ao Homem, pela Natureza e de amplitude universal, que nem precisava nominar aqui: a morte do ser humano.
Sua mensagem não segue uma cronologia do episódio chamado Morte. Mas alude ao sentimento "indescritível" pelo qual uma família passa nessa hora e também se confunde com a imaginação fora de ordem do suposto poeta (este que o escreveu); entra na linha existencial metafísica, de maneira metafórica, mas também imagina muita passagem concreta e cotidiana, circunstanciada pela própria Vida.

Sua poesia faz coro com a voz da pessoa que esteja sofrendo; mergulha no pranto para dizer o que ela espera ouvir, bem como se supera na dor, para transmitir-lhe a energia espiritual que flui "naturalmente", com ou sem oração religiosa.
Também "faz tempo que o autor já é vítima da tragédia: seu pai 'foi para a Outra Dimensão', a sonhada vida eterna, há trinta e um anos". Logo, este poema é também autobiográfico.
Sua poética, versificação, confronta a Vida com a Morte, esboçando uma noção de ambas, imaginando eterno combate existencial em que a primeira vence a segunda.
Esse drama-fenômeno interminável é ilustrado pelo mote em uma linha, no capítulo III, E a Vida nunca termina. O mote foi um "pivô temático" — eixo em torno do qual giram subtemas derivados, cada um com a sua estrofe.