Poemas da missão de governar

12/05/2020

Cogitação de equidade: perguntador e proverbial

Quem não tem preocupação com a justiça? 
Quem se sente seguro com o ato injusto? 
Não se sabe o que é pior, mais alto custo:
criticar um homem da mente castiça,
elogiar um empreiteiro da carniça.

Os extremos não são sempre os bons meios;
justo meio, meio-termo são esteios
pelos quais também se pode avaliar.

Meio-termo está na mediania*.
"A virtude está no meio"? Pode não estar.
Justo meio está na dosimetria**:
"Nem tanto à terra e nem tanto ao mar". 

A sentença convém ser proporcional
com parcelas meio a meio ou diferentes:
aos culpados, o componente penal;
e nenhuma acusação aos inocentes. 

"A justiça é cega [em audiência]",
mas também "não é oito nem oitenta";
pode ser, caso haja coincidência. 

E a igualdade em que a mesma se sustenta,
para ter equilíbrio e equivalência,
divide ou não, o total pela metade,
"tratando com igualdade os iguais
e com desigualdade os desiguais",
como disse Rui Barbosa à mocidade***.

Respeitando a Faculdade de Direito,
ficam acima, precisando de conceito,
uns retalhos de justiça com equidade.

Notas:
*Mediania de Aristóteles.
**Dosimetria das penas.
***Oração aos moços, obra de Rui Barbosa. 
Para o leitor menos versado em metrificação
o poema acima contém 28 versos de 11 sílabas poéticas (hendecassílabos) em rimas intercaladas (ABBA...) e alternadas (ABAB...); 
estrofes de 3, 4, 5, 6 versos (terceto, quarteto, quintilha e sextilha, respectivamente), cada uma, funcionando como se fosse um parágrafo de um texto em prosa; 
quase sempre, os versos têm a sílaba tônica (rapidamente pausada) na terceira, sétima e última sílaba poética, por exemplo, aqui: 
Os extremos não são sempre os bons meios, 
Respeitando a Faculdade de Direito, 
o que lhes atribui certo ritmo ou cadência.

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