Mistério e fenômeno

1) Participação do mistério (em décima)

Sempre o mistério faz parte

da vida como da morte,

do engano como da sorte,

da Terra como de Marte.

Está na obra de arte,

na influência da musa,

no calor que molha a blusa,

na noite silenciosa.

A vida é misteriosa

no que extrema ou se cruza.

2) Fenômeno físico (em décima)

A noite também se dosa,

em casa, na escuridão:

no silêncio do fogão

que ferveu água espumosa;

uma panela brilhosa

perde o brilho no escuro;

mas a mão encontra o furo

na fechadura da porta

onde uma chave entra torta

e sai de modo seguro.
      Fenômeno "físico" é aquele que passa por mudança, mas ainda volta ao estado anterior (por exemplo, a água vira gelo e o gelo vira água).

3) Outras mudanças (em estrofe bárbara)
Sempre algum fenômeno passa:
forte ou fraco, mais ou menos.

Grandes fogos e pequenos

vão-se embora na fumaça.

Passagem que era de graça

agora é bastante cara.

Viagem de pau-de-arara

passou a ser de avião.

Ótima safra de algodão

cai na “praga do bicudo”.

Academia de estudo

foi criada e excluída.

E uma escola é destruída

em chamas de fogo agudo.

No poema acima, "fenômeno" significa simples mudança ou passagem do corpo ou do caso, de um estado para outro: não é algo sempre misterioso.