Poemas da missão de governar

16/07/2018

POEMA 16 DE JULHO: 1976, Turma 165, tarjeta Azul, EEAer

      1) Data inesquecível
Dezesseis de Julho é uma data marcante,
porque faz lembrar a nossa Formatura.
Permite escrever um poema ou brochura:
escrevo um poema lírico e palpitante,
falando em Colegas e baile importante
da nossa Escola em Guaratinguetá.
O meu coração "bate forte" e está
saudoso e feliz do que aconteceu,
"pois até o dia de hoje nasceu
com o Sol mais bonito aqui, no Ceará!".

      2) Invocação às Musas
Invoquei as Ninfas de todo o País —
em nome de todos os meus Companheiros,
a fim de brindar os momentos primeiros
em que nós tomamos outra diretriz.
Com as malas na mão, em um dia feliz,
seguimos no rumo de outros Estados.
Garbosos, vibrantes e recém-formados,
deixamos saudade, e saudade, levamos;
ao final de um mês? já nos apresentamos
em outros quartéis, muito entusiasmados.

      3) Base antológica
Não será possível trazer à memória
os Fatos do Dia em ordem cronológica.
Mas faço um registro com base antológica*,
passando de novo esse filme da história.
Durante os dois anos de estudos e glória,
rígida obediência e de "ordem unida",
aprendemos muito a fazer corrida
e não descansar depois de anoitecer;
estudar à noite e, ao amanhecer,
cantar hino em louvor à Pátria Querida.

*Antológico: que é digno de ser lembrado; memorável ou notável: acontecimento, discurso antológico.

      4) "Cortinas abertas"
"Abrindo mais porta e cortina dos anos",
vejo os dias frios e as noites em claro
quando se fazia a chamada e o preparo
da escala que não podia ter enganos;
a cama de lona e os lençóis de panos,
em uma esquadrilha ou no alojamento.
Depois do pernoite, chegava o acalento
de ir para o leito, porém ninguém ia,
porque tinha prova já, no outro dia,
e estudava até o exausto momento.

      5) Especialidades e vocações
Eram vinte e cinco Especialidades;
não lembro todas as denominações.
Mas sei que exigiam certas vocações,
aptidão, tendências e habilidades.
Cada um escolheu suas atividades
conforme o “provão” do maior Psicoteste.
Foi uma semana, fazendo esse teste
que nos indicou a escolha a fazer
e sermos mais felizes ao exercer
nossa profissão de maneira inconteste.

      6) Aprendizado militar
Aprendemos tudo, por assim, dizer:
as duas pilastras do Militarismo —
a hierarquia com o seu formalismo
e a disciplina, que é obedecer;
“o último a folgar e o primeiro a fazer”,
“bater continência”* como saudação,
não desperdiçar o lanche ou refeição,
as regras de etiqueta social,
conceito moral e profissional;
sinônimo de cárcere, que é a prisão.

*A continência é a saudação militar.

      7) Lição de coleguismo
Brincadeira à parte¹ —, aprendemos assim,
além de outro gesto , o que é um colega:
é um tipo de amigo, é quem nos agrega
e, "antes do incêndio, apaga o estopim";
não humilha o parceiro quando o Boletim²
diz na “quarta parte”³ que ele foi punido;
em vez de zombar, fica compadecido
ou é solidário à sua tristeza 
"tirando uma veia daquela fraqueza"
a fim de ajudá-lo a ser corrigido.

¹Brincadeira extraída de um caso sério a qual, sendo "bem tirada", fortalece também o convívio.
²Boletim diário é o “Diário Oficial” da Unidade Militar.
³Quarta Parte — justiça e disciplina — é a última parte do Boletim, contendo punição, etc.; quando era do tipo Ostensivo, dava para rir de alguma situação, às vezes.

      8) União da Turma 165
A Tarjeta Azul¹ tinha a característica
de ser turma unida em seu tratamento:
no cine, no pátio, com um Sub² ou Sargento,
na sala de aula e na linha humanística.
Eis a nossa flâmula apriorística³:
"não sermos briguentos e nem divididos".
Queríamos ser vistos como os mais unidos*
aos olhos do nosso Tenente** e Major*** — 
sem ter privilégio mais digno ou melhor
que o Corpo de Alunos, também merecidos.

¹A Tarjeta Azul daquele biênio 1974-76.
²Sub: abreviatura de Suboficial.
³Flâmula apriorística: bandeira imaginária com esse lema inventado agora, supondo que era subentendido por nós.
*Suposição minha.
**Tenente Chefe da nossa Turma.
***Major Comandante do Corpo de Alunos.

      9) Saga de mudanças
Com a nossa Turma, a Escola mudou.
Será que marcamos uma geração?¹
Aumentou a nota de aprovação;
e o soldo dos Cabos Alunos, tirou?
do "oitavo" uniforme, a Escola trocou
o belo distintivo² usado no peito.
Sentimos o impacto, não havia outro jeito...
No rol de surpresas que Cronos³ não apaga,
Brasília e Manaus abriram tanta vaga
que "outras escolhas perderam o efeito"*.

¹Não lembro o quanto a nossa Turma foi pioneira em cada mudança, ou melhor, se todas as mudanças começaram com a nossa Turma.
²O desenho de cada Especialidade era mais bonito que o novo, unificado para todas.
³Cronos é O Deus do Tempo, segundo a mitologia grega.
*Ou também: que "outras Cidades saíram do pleito". 

      10) Brilho e comoção no Dia D
              ou Solenidade, desfile e festa 
Dezesseis de Julho brilhou comovente,
na Escola de Especialistas da Aeronáutica!*.
Formatura e marcha na extensão asfáltica
mudaram as pessoas, mexeram com a gente.
Sargento formado, aluno concludente — 
cada um posava com a sua madrinha;
até hoje, eu lembro a beleza da minha...
e quem não se lembra da festa bonita,
da noite feliz e alegria infinita
que só concludente sabia que tinha?!

*a sigla EEAer, da Escola de Especialistas de Aeronáutica, passou a ser EEAr, mas, para mim, não mudou.

      11) 165ª Turma da Tarjeta Azul
A Centésima Sexagésima Quinta
é a nossa Turma da Tarjeta Azul;
de leste a oeste e de norte a sul
do nosso universo*, foi a mais distinta.
Fizemos a festa, completando trinta:
os nossos trinta anos de formatura;
foi em Fortaleza a ditosa aventura
com música, discurso, história e saraus.
E agora, em outubro, estamos em Manaus,
pensando em mais outra homenagem futura.

*Os pontos cardeais geográficos devem ser escritos com letra inicial "maiúscula"; estão com minúscula porque foram particularizados no nosso contexto humano. Universo (Cosmos) também se acha em regra semelhante.

      12) Marcha da motivação
              ou Motivação em marcha
Afinal de contas, qual foi o motivo
de eu ter publicado esses versos viris?
É ter sido Aluno , estudando feliz,
no Campo* onde fui companheiro e altivo;
levar aos Colegas algum lenitivo
que possa afagar a saudade plangente**;
ficarmos em dia, longe e mentalmente,
com a marcha, o desfile e os anos corridos;
e assim, prosseguirmos depois, reunidos,
com “espírito de corpo” e de alma presente.

*Campo em quatro sentidos: territorial, militar, estudantil e, por extensão, em tudo o mais que "viesse a campo" da Escola de Especialistas de Aeronáutica.
**Plangente: que é sentida com tristeza; nesse caso, porque aquele "tempo de bravura" não volta mais.

 Apêndice 

      a) Beleza do militar
            ou Elegância e competência
Bonito e elegante é ser um militar
com a farda impecável (dentro do padrão),
marchando na tropa —, cantando canção¹
ou ao som de um dobrado² que a Banda tocar;
sentir arrepio ao se emocionar!
fazer seu trabalho com espontaneidade;
ser profissional na Especialidade,
passando no "teste operacional"³,
tirando uma nota acima do normal;
e honrar as insígnias e a antiguidade*.

³Avaliação anual feita pela Seção de Instrução e Atualização Técnica (SIAT).
*antiguidade, segundo o Estatuto, indica o tempo de serviço na carreira militar ou civil para promoção, etc.; no jargão militar, "Antiguidade é posto".

      b) Influência de Floriano
            ou Tributo a um colega
Segui vários "mestres" como graduado>;
um foi Floriano de Oliveira Maia.
Com ele¹, aprendi a não "fugir da raia"²
e "andar [bem] na linha"³ qual trem governado";
ser mais obediente, mais civilizado — 
mais um militar de "brevê reluzente".
Estando na escala ou no expediente,
ele era um padrão na rotina do dia:
com o seu uniforme e a califasia*,
gostando de usar a palavra "decente"**.

>Mestre (em sentido figurado) de quem tirei muitas lições na graduação de Sargento.
¹Eu disse "Com ele" para tornar o verso bem claro, mas o certo é "Consigo".
²Não "fugir da raia": enfrentar [com mais bravura] uma situação perigosa.
³"Andar na linha”: fazer tudo, seguindo [com maior espontaneidade] a ordem recebida.
*Califasia é a arte de pronunciar bem as palavras. 
**Floriano gostava de dizer, quando se referia a um colega, que "Ele é um 'cara' decente".

      c) Ausência com amizade
Perdi o contato com os Nobres Amigos,
colegas da Turma que se ausentaram:
por força do ofício, ficaram ou viajaram
e criaram raízes em outros abrigos;
com os poucos que estão em eternos jazigos;
e aqueles que foram matar a saudade,
voltando a morar na sua própria cidade;
e os outros, que eu não sei porque não me atendem.
Mas, "perto ou distante, ainda me prendem,
privando com a minha sincera amizade".

Notas gerais:
1ª) O poema acima com o seu apêndice, ambos de feição antológica, têm 15 estrofes de 10 versos (décimas), em hendecassílabo (verso de 11 sílabas métricas) e rimas intercaladas (abbaaccddc) — cada estrofe com seu título, indicando o subtema aludido; em quase tudo, é apenas uma amostra dos eventos.
2ª) Esse poema à guisa de uma Ode ao 16 de Julho, Dia da nossa Formatura na EEAr, tem ritmo semelhante ao da melodia "Nos dez de galope na beira do Mar". Curiosamente, esse ritmo tem harmonia com a marcha dos cavalos, galopando no Desfile do Dia 7 de Setembro.
3ª) O texto acima poderá ser modificado conforme seja a minha inquietação de plenitude e a sugestão de colegas da nossa Turma no decorrer do tempo, a ser enviada para o E-mail valdirlivro@hotmail.com ou por outro meio de contato. Eu gostaria de escrever o que eles queiram, de interpretar sentimento e assim, por diante. Dessa forma, a poesia fica "mais viva" e realista, embora tenha verso metafórico.
4ª) Na proporção limitada, esse texto em verso era para ter ficado uma pequena peça de arte, burilada e bem montada, com retoque poético, literário, gramatical e metodológico.
5ª) Foi necessário usar o pronome "eu" para esclarecer em cada passagem quem é o sujeito da oração, visto que o autor do poema faz parte do grupo homenageado.
6ª) Sou único responsável pela matéria publicada (ficando meus colegas totalmente isentos de qualquer imputação ou constrangimento).
Nota sobre nota:
a) As notas gerais do poema estão "muito juntas" porque obedeceram a uma formatação da metodologia científica, segundo a qual as notas de rodapé devem ter "espaçamento simples" entre as linhas, e entre uma nota e outra
b) Já as notas de rodapé em algumas estrofes ficaram maiores do que o tamanho recomendado pela metodologia, que é de, no máximo, 1/3 do texto referenciado; isso ocorreu por conveniência de explicar algo mais para o leitor menos familiarizado com o assunto ou com a história da nossa Turma da EEAer.

ÍNDICE DE RECAPITULAÇÃO
      1) Data inesquecível
      2) Invocação às Musas
      3) Base antológica
      4) "Cortinas abertas"
      5) Especialidades e vocações
      6) Aprendizado militar
      7) Lição de coleguismo
      8) União da Turma 165
      9) Saga de mudanças
      10) Brilho e comoção no Dia D
              ou Solenidade, desfile e festa
      11) 165ª Turma da Tarjeta Azul
      12) Marcha da motivação
              ou Motivação em marcha

 Apêndice 
      a) Beleza do militar
            ou Elegância e competência
      b) Influência de Floriano
          ou Tributo a um colega
      c) Ausência com amizade

Um comentário:

  1. Maravilha como nossas vidas mudaram a partir da EEAer fizemos grandes irmãos e amigos.

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