Poemas da missão de governar

08/06/2018

Conformação de luto ou Consolação ao enlutado

Poema "de fôlego" (tem mais de 600 versos, cada uma estrofe com seu título), sobretudo o mote 
E a Vida nunca termina.

        Sonho com a Morte 
Vi o fantasma da Morte, 
levando, em sonho, um irmão. 

Sofri com essa visão, 
chorei com a falta de sorte. 
Não achei como suporte 
essa aterradora dor. 
Lembrando aquele pavor, 
sinto ainda uma aflição. 

Foi aquilo a antevisão 
de um futuro terror. 

  Acometimento funesto
Revoltadíssimo, eu fiquei
Com a morte do meu irmão,
Sem chance de reação
Aos revezes que enfrentei.
Ainda agora, eu chorei
Pelo seu sepultamento.
Mas foi o acometimento, 
Modo como adoeceu,
Que também me entristeceu:
Vi um irmão falecer
Sem nada poder fazer
Um santo, um médico nem eu.
     (Estrofe autobiográfica)

        Dor infinita
Existe uma dor terrível 
Que só sente quem a tem. 
É da hora inesquecível 
De quando se perde um bem: 
O Bem Querer Maternal 
Que se interna em um hospital  
Sem nunca mais ver ninguém, 
Sendo o destino final
A Outra Vida no Além!

    Amargura da doença  
Fica amarga e triste a vida
quando a gente está salvando
pessoa amada ou querida,
diariamente, agonizando:
um espírito forte e penando
com uma doença infeliz;
se a Medicina não diz
nem o hospital reporta
remédio certo que corta
o seu mal pela raiz.

       Momento final
Um médico encerra uma luta
durante um choro de luto
que, de minuto em minuto,
de alguém do morto, ele escuta.
Segue o rito e a conduta
desse momento final:
do óbito triste e fatal,
ele expede o atestado;
na maca, entrega o finado
ao responsável legal.

  Decomposição e transfusão 
Com sete palmos de areia,
Um caixão fica coberto
No cemitério deserto,
A mais terrível cadeia
Onde se desencadeia
A destruição da matéria.
Fora da tumba funérea,
O espírito fica vagando
Com a sua família, chorando
Em uma transfusão etérea.

      Fácil e difícil
É muito fácil dizer
que um espírito seja forte,
que se conforme com a morte,
porque tem de acontecer.
Muito difícil é viver
sem a pessoa querida:
parece que a própria vida
de uma pessoa enlutada
fica também consumada
junto à outra, falecida.

Sentinela e funeral (hendecassílabos)
O choro da Morte é inevitável — 
com todo amargor, no velório e no enterro:
"certeza da ausência e sinal do desterro", 
duas flechas de dor do tipo insuportável.
No entanto, a pessoa torna-se mais frágil
é no "desespero do sepultamento":
a lágrima chorosa vira um sofrimento
que a faz perder o sentido e a razão,
caindo por cima do féretro no chão,
crivada de dor com terrível tormento.

O Capítulo I- Oração e "outra vida"

      1) Ao coração de luto
Não sei como vai ser dado
consolação e conforto
para quem se junta ao morto,
de coração enlutado.
Mas, ao rosto lagrimado
por essa falta de alguém,
dizemos que "lhe convém
se conformar e aceitar;
enquanto a gente rezar,
os Anjos dizem 'Amém'"!. 
      2) Prece e choro
Toda oração contém
um reflexo transcendente,
seja a favor de um doente
ou de quem foi para o Além;
é um remédio também
contra a dor em exagero.
E a lágrima vem do esmero,
"hidratando" a parte fraca,
em vez de uma dor que ataca
rosto e alma em desespero.

      3) Fluidos espirituais
No entanto, essa oração
dirigida para o Céu
não precisa ser com um véu
nem grinalda de algodão;
deve ter a dimensão
de transcendentalidade;
e uma espiritualidade
que todo mortal possui.
E assim o espírito flui
para a paz na Eternidade.

      4) Passagem marcada

Mesmo que seja esperada,
a morte é sempre surpresa,
a mais profética tristeza
temida em qualquer morada;
é uma passagem marcada
por uma triste partida;
toda morte é dolorida —
não há como se negar.
Por isso, é melhor pensar
na existência de Outra Vida.

Capítulo II- Anjos e imortalidade

      5) Recomeço doloroso
A morte não é o fim*,
mas é fase dividida:
é a continuação da Vida
em “outra casa ou jardim”.
Anjo, arcanjo e querubim
dão consolo e companhia
nessa “nova moradia”;
mas está no funeral
uma dor universal
que, aos mortais, causa agonia.
www.pensador.com/frase/MTMwOTY4OA/.

      6) Ascensão angelical
Os anjos têm hierarquia,
trono, poder e coroa.
Depois de morta, a pessoa
mantém a sua energia;
deve entrar em sintonia
com os corpos celestiais.
Correntes angelicais,
fora deste mundo torto,
vão tomar conta do morto
nos “degraus espirituais”.

      7) Cortejo imortal

Evidentemente é
mais fácil dizer “Suporte...”
do que andar com a morte,
de frente, firme e de pé.
Mas é preciso ter fé
na Luz que, ao corpo, ilumina:
vem de uma fonte divina,
em um cortejo imortal,
sob a Ordem Natural
que o dirige ou determina.

Capítulo III- Mote em uma linha:
E a Vida nunca termina...
"nunca", advérbio que deságua na eternidade; 
"terminar", verbo intransitivo.
A) Morte e vida

      8) Hora da morte
"A morte [ou falecimento]
não é o contrário da vida:
[sua antonímia assistida]
é a hora do nascimento."*
O espírito faz movimento,
sob a luz que o ilumina.
Morre o corpo ou se declina,
mas a alma é infinita:
deixa a matéria onde habita.
A Morte vem de surpresa,
por mais que seja esperada;
arma sempre uma cilada,
impedindo uma destreza.
Mas a Vida faz limpeza,
mesmo que não se previna:
com a sua “água cristalina,
‘lava a alma’ e arrefece
as chamas de quem padece”.
E a Vida nunca termina Oi.

      10) "Duas mães"
A Morte é um monstro invencível,
de presença detestável,
com ação abominável —
“a mãe de uma dor terrível”.
Mas a Vida é concebível
como “a mãe que predomina”;
tem a “bênção da vacina”
que imuniza corpo e alma,
traz de volta luz e calma.
E a Vida nunca termina.

B) Nascimento, morte e luto

      11) Choro universal
Choramos quando nascemos;
quando morremos, choramos.
Quando neste Mundo, entramos,
é sempre assim que vivemos.
Com o Tempo, nós aprendemos
o que a Dor Terrível ensina:
"Morte não é assassina,
é um grande mal necessário,
consolado em santuário".
E a Vida nunca termina.

      12) Choro controlado
O enlutado quer ouvir
um ensaio de oração —
mesmo sem explicação
sobre o que ele vai sentir;
Ele tem de resistir
ao choro que o amofina;
sua lágrima é cristalina,
mas deixa a vista embaçada;
precisa ser controlada.
E a Vida nunca termina.

      13) Ditado confortador
O enlutado quer saber
se acha palavra ou poesia
que o liberte da agonia
das algemas do sofrer.
Então pode assim dizer —
ao cumprir a sua sina,
vendo a Morte repentina
levar quem muito ele ama:
“'Morre o homem, fica a fama'.
E a Vida nunca termina...”.

      14) Mensagem sacrossanta

As mensagens da Igreja*
têm nuanças de poesia:
métrica, ritmo e harmonia 
sua melodia enseja.
Talvez o hábito assim seja
porque a Poesia atina
para cantiga divina
com toques de "transcendência
que substitui a ausência".
E a Vida nunca termina.

*Frases litúrgicas e poéticas que podem virar versos decassílabos (com 10 sílabas métricas), ritmados com sílabas poéticas tônicas em negrito:

"O Esrito nos una num só corpo.
Esperamos entrar na vida eterna.
Dai a todos a luz que não se apaga".

C) Cena e ações

      15) Cenário de luz¹

Na sala, faz-se o velório,
a as velas queimam pavios.
“Os olhos viram dois rios
de lágrimas” no oratório,
molhando o "caixão corpóreo"².
"A vela acesa ilumina
a alma" que se imagina
fugir da escuridão
em busca de salvação.
E a Vida nunca termina.

¹ Clicar aqui, ver também

https://www.google.com.br/search?q=cen%C3%A1rio+de+luz&source
² Alusão ao "féretro" (caixão onde se guarda a pessoa morta).

      16) Missa de Sétimo Dia
Nem a Mãe Filosofia*
tira o coração do aperto.
A família faz o acerto
da Missa de Sétimo Dia.
"Brilham cristais de poesia
só vistos pela retina."
Filha com neta imagina
uma poética mensagem,
fazendo outra homenagem.
E a Vida nunca termina.
      *A Mãe das Ciências.

D) Exemplos e enfrentamento

      17) Três poetas
Foi-se Álvares de Azevedo¹,
Castro Alves² e Vinícius...³.
Seus poemas vitalícios
não os levaram a degredo.
“Álvares foi muito cedo”,
sua Dúvida era uma sina;
Castro sempre se afina
com A Lei da Escravidão;
viva O Poeta da Paixão!
E a Vida nunca termina.

¹O Poeta da Dúvida.
²O Poeta dos Escravos.
³... de Moraes, O Poeta da Paixão.

      18) Salomão também se inclui.

Depois do sepultamento,
dorme o corpo no caixão;
mesmo debaixo do chão,
voa em muito pensamento.
Não se acaba o sentimento
da esposa e da concubina.
Salomão morreu com a sina
de ser justo, mas volúvel.
Sua história é indissolúvel...
E a Vida nunca termina.

      19) Heroínas e passageiros
Solidão não apavora...
É a Morte que faz medo:
“não escolhe alguém a dedo”,
mas assusta em qualquer hora;
levou Helena e Senhora,
Lucíola e Coralina.
Sua ousadia culmina
com "navio [que vai] a pique":
foi assim com o Titanic.
E a Vida nunca termina.
    *Protagonistas da Literatura.

      20) Popularidade irônica
Democrática e popular,
a Morte sempre vai ser:
não mira quem vai morrer;
é o primeiro que pegar.
Tem folga, tempo e lugar
na construção, na campina;
do Brasil à Palestina...
“Nos quatro cantos do Mundo”,
agoniza um moribundo.
E a Vida nunca termina.

      21) Enfrentamento
Para enfrentar a Morte,
é necessário entender
que "todos têm de morrer
como a planta entra no corte".
É preciso um espírito forte
junto ao corpo que declina:
contra a Universal Chacina,
tome a frente do combate,
levantando quem se abate.
E a Vida nunca termina.

E) Drama da família


      22) Linhagem e continuidade
Morre o pai, a mãe e o filho;
vive o neto em seu lugar,
querendo perpetuar
uma família de brilho;
o bisneto segue o trilho
que a “linhagem vaticina”:
em direito ou medicina,
música ou literatura —
Arte, Ciência e Cultura.
E a Vida nunca termina.

      23) Pai, mãe e filho

Quando é um irmão que vai
para a Eterna Dimensão,
fica chorando outro irmão
logo depois que ele sai.
Se já tiver ido o pai
e a mãe pra Casa Divina,
um anjo da família ensina
a suportar as três dores
com os sagrados valores.
E a Vida nunca termina.

      24) De manhã, cedo
Quando é de manhãzinha,
um filho fala na sala,
o outro já perde a fala
e os demais vêm da cozinha.
Vão cantar a "ladainha",
uma reza da matina 
que agora é prece divina
e ao mortal, imortaliza
onde a Morte faz divisa.
E a Vida nunca termina.

*autobiográfico: meu caso e supostamente de outra pessoa.


      25) "Ele está no meio de nós" 
             ou "Ele está entre nós".
Quem morreu vive entre nós 
invisível, impalpável;
sensível como abalável
quando escuta som e voz;
chega perto e logo após,
entra na nossa rotina;
por trás da santa cortina,
vê tudo quanto se passa;
chora, canta e acha graça.
E a Vida nunca termina.

F) "Campo-santo"


      26) "Dois de Novembro"
Chega o Dia dos Finados,
de visita ao cemitério:
o silêncio é um mistério
pela voz dos enterrados.
São muitos antepassados
que o sal da terra domina.
"O cemitério é salina
que não conserva a matéria
porque se faz carne etérea."
E a Vida nunca termina.

      27) Através da vidraça*
Quem contempla diariamente
a imagem de um cemitério
sente um ar telúrico e etéreo
que sopra invisivelmente.
Percebe tal como sente
um anjo que abre "a cortina
da atmosfera divina".
Olha por trás da vidraça,
fica em "estado de graça".
E a Vida nunca termina.
G) Depois da forma do corpo

      28) "Nuvem passageira" ou
            Impermanência da forma
“Quem se despediu da Vida”
não foi permanentemente:
ficou na alma da gente
que lhe foi grata e querida.
Nem fez a única partida
que o Universo determina.
“Nuvem se parte ou se inclina,
mas refaz-se ou se levanta,
mostrando que se suplanta.”
E a Vida nunca termina.

      29) Encarnação, ressurreição
O espírito desencarna,
mas a carne ressuscita.
Nessa alternância infinita,
a Vida segue ou desarna;
“Ressuscita ou reencarna” —
tudo é verbo que germina,
forma verbal que se afina
e, por essa afinidade,
suscita continuidade.
E a Vida nunca termina.

      30) Duas alusões

“E a vida continua...” 
diz, na cantiga, o Poeta¹.
Em parte, ele interpreta
o que este mote insinua:
é uma tese em que se inclua
Morte e Vida Severina²...
não é linha que defina
o consolo de um aflito,
mas "pode ouvir o seu grito".
E a Vida nunca termina...

¹música de Paulinho da Viola.

²obra de João Cabral de Melo Neto.

H) Estrofes autobiográficas

      31) Trinta e um anos
Hoje¹, faz trinta e um anos
que o meu bom pai faleceu,
porém não emudeceu
A Voz dos Verbos Ufanos².
Recordo ao vivo os seus planos
de criação e doutrina —,
que, "até hoje, ele me ensina
no meu 'campo-santo' oculto".
Guardo o seu vulto insepulto...
E a Vida nunca termina.

¹Hoje, 14 de maio de 2018 (falecido em 1988).
²antonomásia, ou melhor, cognome dado por mim que externa altivez e entusiasmo do meu pai.

      32) Mais de trinta e um anos
Depois de trinta e um anos
que uma pessoa* morreu,
sua prole não perdeu
reflexos cotidianos.
Guada roupas, redes, panos
que ficaram sobre a tina.
Vai à missa matutina
com uma veste ali deixada;
chora em uma rede armada.
E a Vida nunca termina.

*Meu pai e, supostamente, outra pessoa.


      33) "Mãe desnaturada"
Na hora, eu me revoltei
contra a Morte e "a sua foice"¹,
que, por causa dela, foi-se
"o meu pai-herói e meu rei".
Só depois me conformei,
que a Morte não se incrimina,
mas diz quando se assina:
“Sou a Mãe que não tem paz,
Desgraçada no que faz"².
E a Vida nunca termina.

¹Clicar aqui, ver também > imagem+foice+da+morte [...] chrome [...].
²antonomásia ou cognome atribuído por mim que indica um perfil da Morte.

      34) Morada eterna
Vou morar na Eternidade
— depois de viver na terra ,
pois a Vida não se encerra
na materialidade.
Creio na imortalidade
do espírito que me ilumina
e na "alvorada divina"
com tudo que é luz acesa
pela "mão da Natureza".
E a Vida nunca termina...

      35) Filho abalado
"O filho mais velho" chora
depois que tudo se passa,
pensando como rechaça
esse abalo que o devora.
Então resolve ir-se embora
para mudar de rotina:
muda de casa e colina,
porém não muda o sentido
na falta do pai querido.
E a Vida nunca termina.

*meu caso e supostamente de outra pessoa.

       36) Exemplo da cravina
"Gotas de lágrima", eu chorei
nas letras deste poema:
eram dor, luto e dilema
das Almas em quem pensei.
Mas não me desanimei...
Vou fazer como a "cravina":
resistente e purpurina,
que se adapta a qualquer vaso,
com a chuva, o Sol e o Ocaso.
E a Vida nunca termina.

Eu não existo sozinho
no Universo Infinito:
penso em riso, choro e grito
de um espírito, meu vizinho.
A sepultura é um ninho
onde cai chuva e neblina;
mas é casa sem esquina
e uma eterna moradia
"de quem me faz companhia".
E a Vida nunca termina.

I) Cogitação geral

      38) Fogo e fumaça
Quem foi que não assistiu
ao filme trágico da morte?
Quem não sofreu com seu* corte
nem o seu fogo, sentiu?
A vida é como um pavio
ao fogo da lamparina:
sua fumaça contamina;
sobe aos ares, faz um manto,
procurando luz e canto.
E a Vida nunca termina.

*seu, da morte (e não do filme).


      39) Recurso e desapego
Quem tem ou não tem riqueza
fica na posição certa:
“'pé na cova, cova aberta'
para um corpo sem defesa”.
O povo, o clero e a nobreza —
cada qual tem esta sina:
um caixão onde se inclina
com as mãos vazias —, dizendo:
“Não levo nada, morrendo”.
E a Vida nunca termina.

      40) Bálsamo, guarda-pó

Vai mergulhar todo mundo
na profundeza da morte.
O óbito é um passaporte
para um bálsamo profundo,
concentrando bem, no fundo,
uma essência que previna:
“guarda o pó¹ (ou a goma fina)
que pode ser transformado
para uso² continuado".
E a Vida nunca termina.

¹: carne, corpo, matéria;
²uso: para dar vida nova, renascer, reencarnar, ressuscitar.

      41) Berço e caixão
No dia do aniversário,
lembra-se o falecimento;
entra no congraçamento
"outra vida, outro diário".
Berço e caixão funerário:
cada qual se imagina...
são contrastes na retina,
mas é tudo unificado —
entre nascido e finado.
E a Vida nunca termina.

      42) Energia planetária
Foi dito que "tudo passa...".
Eu digo que "tudo fica";
somente se modifica
a matéria, o peso e a massa;
fica na Terra a carcaça
e o fio da carnificina.
Fica energia em turbina
feita por átomo gregário
no Sistema Planetário.
E a Vida nunca termina.

J) Trecho sugestivo

      43) Encanto da Vida
Seja existencialista,
sinta encanto pela Vida.
"Faça a sua despedida",
mas "não se perca de vista".
Volte com uma dose mista
de viagem paulatina:
deite a mão sobre a angina 
do coração ofegante
para seguir mais adiante. 
E a Vida nunca termina.

      44) "Vinho da imortalidade"
Não beba nem experimente
vinho de imortalidade.
Saiba que a eternidade
está na alma da gente.
Imitando a Voz Prudente,
vou resumir a doutrina:
"Não tome essa vitamina... 
Você não suporta ver
geração nascer... morrer...
E a Vida nunca termina"!.

Nota: forma verbal no imperativo atendeu à métrica do verso e não se trata de arrogância do autor.

      45) Desafio e superação
Desgosto de todos nós
e um desafio que temos:
neste mundo onde vivemos,
“a Morte é um bicho feroz”;
não envia porta-voz,
agride com a mão ferina.
Mas "a Vida é uma heroína"
que amansa e domina a fera;
vence, enquanto se supera.
E a Vida nunca termina.

K) Final em apêndice

    46) Um ano mais tarde
Depois de um ano passado,
continua a homenagem:
vela, choro, luto, imagem
do corpo que foi velado.
Seu vulto é reanimado
na mente que o imagina.
A luz do Amor ilumina
o esquecimento obscuro.
O passado foi futuro...
E a vida nunca termina.

O corpo é uma casa
de energia espiritual.    

     47) Energia espiritual
O corpo também se explica
pela casa energizada:
só a energia ligada
é a alma que o vivifica;
luz acesa exemplifica
o espírito quando ilumina;
e a casa que se extermina
vira tapera no chão,
mas deixa a iluminação.
E a Vida nunca termina.

48) e 49) Maio de 2019

      48) Dia 14 de Maio
Catorze de maio é o dia
em que o meu pai faleceu,
quando a família sofreu
tristeza, dor e agonia;
cada um de nós agia,
vendo a imagem peregrina.
Nem reza, nem dolantina
curaram a sua doença.
Mas sinto a sua presença...
E a Vida nunca termina.

49) Doze e Catorze de maio: riso e dor
O Dia das Mães passou-se
e um dia triste chegou.
Esse contraste mostrou
um impacto que a Morte trouxe:
uma existência mudou-se,
entristecendo a "bonina"*;
amargurou-se a rotina;
filhos choram, mãe resiste.
Dia alegre, dia triste...
E a Vida nunca termina.
      *Planta de flores, também chamada de Bela-margarida e Mãe-de-família.

      50) Mais morte, mais fé
Morreu a última pessoa
que cuidou de mim bastante
quando eu era um estudante
na busca de vida boa.
Tornou-se esposa ou patroa
de um chofer, gente fina.
Foram morar em uma esquina
onde também faleceram.
Mas, para mim, não morreram...
E a Vida nunca termina.

      51) Tio na UTI
      (Unidade de Tratamento Intensivo)
Se um tio meu está doente,
em estado terminal,
internado no hospital,
tratado intensivamente;
se tem um sobrinho ausente
que reside em Teresina
e, em ligação citadina,
não o achei para avisar,
resta só me conformar.
E a Vida nunca termina.

    52) Pensão por morte
Uma aposentadoria
é transformada em pensão,
mantendo a cifra e o cifrão
que a finada recebia.
E quem se beneficia
do valor que se destina,
constrangido ou não, assina...
Cancela-se o CPF*
em proveito de outro chefe.
E a Vida nunca termina.
   *Cadastramento de Pessoa Física.

      53) Voz do Martírio

"Tu, que és a Morte triste,
miserável, atrevida,
tiras de um corpo a vida
cuja alma sempre existe
e ao teu ataque resiste
qual o mártir à guilhotina.
Vais me levar, assassina...!
Mas fica tu consciente
de que eu vivo eternamente.
E a Vida nunca termina."

      54) Consolo de luto sem proselitismo
            Estrofe bárbara (com 12 versos)
A vida tem sofrimento...
Mas quem deseja morrer?
Antes a "cruz de viver"
do que bom sepultamento...
bom ou mau, chega o momento:
o final da provação.
Quem não tem religião,
mas tem religiosidade;
quem tem espiritualidade 
— católico, ateu e crente... — 
merecem ter igualmente
consolo de mortandade.

ÍNDICE TEMÁTICO DE RECAPITULAÇÃO
Capítulo I- Oração e "outra vida"
Capítulo II- Anjos e imortalidade
Capítulo III- Mote em uma linha:
E a Vida nunca termina...
A) Morte e vida
B) Nascimento, morte e luto
C) Cena e ações
D) Exemplos e enfrentamento
E) Drama da família
F) "Campo-santo"
G) Depois da forma do corpo
H) Estrofes autobiográficas
I) Cogitação geral
J) Trecho sugestivo
K) Final em apêndice
PÓS-APRESENTAÇÃO DO POEMA

O poema acima contém 54 estrofes de 10 versos, com redondilhas maiores (7 sílabas poéticas) e rimas intercaladas (abbaaccddc); cada estrofe numerada possui título e subtema próprios; todas juntas formam 3 capítulos; e o capítulo III, 11 seções.

O mesmo procura dizer à pessoa que perde um ente querido, alguma palavra-mensagem de aceitação da tragédia anunciada infinitamente ao Homem, pela Natureza e de amplitude universal, que nem precisava nominar aqui: a morte do ser humano.
Sua mensagem não segue uma cronologia do episódio chamado Morte. Mas alude ao sentimento "indescritível" pelo qual uma família passa nessa hora e também se confunde com a imaginação fora de ordem do suposto poeta (este que o escreveu); entra na linha existencial metafísica, de maneira metafórica, mas também imagina muita passagem concreta e cotidiana, circunstanciada pela própria Vida.

Sua poesia faz coro com a voz da pessoa que esteja sofrendo; mergulha no pranto para dizer o que ela espera ouvir, bem como se supera na dor, para transmitir-lhe a energia espiritual que flui "naturalmente", com ou sem oração religiosa.
Também "faz tempo que o autor já é vítima da tragédia: seu pai 'foi para a Outra Dimensão', a sonhada vida eterna, há trinta e um anos". Logo, este poema é também autobiográfico.
Sua poética, versificação, confronta a Vida com a Morte, esboçando uma noção de ambas, imaginando eterno combate existencial em que a primeira vence a segunda.
Esse drama-fenômeno interminável é ilustrado pelo mote em uma linha, no capítulo III, E a Vida nunca termina. O mote foi um "pivô temático" — eixo em torno do qual giram subtemas derivados, cada um com a sua estrofe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário